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Taiguara – Não ser escravo! O caminho da consciência e a criação do Comitê Taiguara

  • grupomonizbandeira
  • 14 de fev. de 2023
  • 4 min de leitura

Atualizado: 15 de fev. de 2023


Para Taiguara Chalar da Silva e Taiguara Silveira


Nesse 14 de fevereiro, se completa 27 anos do desaparecimento físico de Taiguara Chalar da Silva (1945-1996) e 100 anos do falecimento de Manuel Raymundo Querino, o anti-Nina Rodrigues



Taiguara (o liberto em tupi, aquele que não é escravo) foi um dos artistas brasileiros mais combatentes e criativos do século XX. Por ter coragem demais, ele que foi soldado de Luiz Carlos Prestes e jamais escondeu sua posição como comunista revolucionário nunca cedeu a oportunismos, acordos de conveniência e de favorecimento individual, se tornando alvo permanente da ditadura empresarial-militar e o músico brasileiro mais perseguido e censurado do país, se tornando voz ouvida não somente nos rádios, mas nos telefones grampeados, não somente escutada nos depoimentos e discursos potentes entre uma canção e outra, mas também pelos órgãos da repressão que o exigiam explicações: como ousar ser tão livre?

De acordo com pesquisas nos arquivos do Dops realizada por sua filha Imyra Chalar, Taiguara teve mais de 300 músicas censuradas (!!!), trabalhos inteiros, como a obra-prima “Imyra, Tayra, Ipy, Taiguara” (1976) com arranjos dele e de Hermeto Pascoal e orquestrações de Wagner Tiso que foram privadas do conhecimento do público brasileiro. A brutal censura que lhe foi imposta tinha objetivo um objetivo claro: ser uma tortura psicológica, calar sua voz, o desestimular, esmagar seu espírito.

Ampliador da voz do povo como Beth Carvalho, João do Vale e Gonzaguinha, seus grandes companheiros de arte e luta, seus detratores tentaram reduzir sua trajetória a de um cantor “romântico” ou de “antigamente”. Taiguara não abaixou a guarda e combateu todos os dias em várias posições. Além de músico magistral e que deu inúmeras contribuições originais à música brasileira, combateu com o jornalismo, com a educação, sendo parceiro de Paulo Freire em seu exílio africano, experiência no qual guardaria em sua cabeça os sons presentes na musicalidade de “Brasil Afri” (obra-prima de 1994 composta em Cuba e na Tanzânia ). Em suas entrevistas recusava abordar sua arte como algo que pudesse ser discutida fora do espectro mais geral da situação nacional e mundial, fora dos problemas de sua época e da história que funda nossas mazelas e nossas riquezas.

Ao castigá-lo com a proscrição que apagou seu nome dos monumentos dos grandes artistas da música brasileira contemporânea, seus algozes, que são os mesmos inimigos do povo que assolam brasileiras e brasileiros na mais brutal exploração e por meio de todos os tipos de violência (do extermínio contra os povos originais e a população negra nas favelas e periferias, do esgotamento físico da carga extenuante de trabalho, do machismo, da misoginia e dos feminicídios contra as mulheres, da fome, da subcultura e da alienação, do endividamento e etc) esperavam aniquilar Taiguara da história, assim como buscam apagar a história de todos os heróis e heroínas do povo e de cada episódio que o povo se levantou por justiça e por um mundo novo para que fiquemos sem exemplos, e logo sem horizontes de mudanças.

Todavia, Taiguara está vivo, seu sorriso, suas palavras e seu balanço, música e cara brasileira se faz presente a cada dia mais como ânimo, exemplo, esperança, como herança que não podemos renunciar, pois se fizermos isso estaremos abdicando de construir o Brasil como civilização potente de novo tipo, humana, solidária e socialista. Seu riso, suas letras, sua potência e clamores permanecem vivos e atormentam nossos inimigos como pesadelo, seu nome e sua obra ecoará cada vez mais forte como uma rebelião nas senzalas, como a bravura de Sepé Tiarajú e Antônio Conselheiro em cada ato por justiça, em cada afirmação de nossa brasilidade e no árduo caminho brasileiro para o socialismo.

Em meio a dura batalha para derrotar as forças de uma das mais nefastas humilhações que o Brasil passou (os 4 anos de governo filofascista Bolsonaro precedido pelo golpe de Estado de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff) foi conformado em 2022 por jovens trabalhadoras e trabalhadores do Rio de Janeiro o Comitê Taiguara de Lutas Populares com vias de contribuir na luta pela eleição do governo nacional popular de Luiz Inácio Lula da Silva e avançar na organização popular por um programa nacional e estratégico em direção ao socialismo.

O Comitê Taiguara já nasceu atuante em vários bairros carentes da região metropolitana do Rio de Janeiro, e tem realizado desde então permanentemente inúmeras marchas populares, conversando com a população, organizando grupos de formação política junto com o Grupo de Pesquisas e Estudos Nacionais e Estratégicos – Moniz Bandeira, se erguendo sob os princípios éticos revolucionários de Taiguara na alma e de Luiz Carlos Prestes no coração, dando a assim seus primeiros passos na contribuição para (re)construção de uma nova força política revolucionária e novas frentes de massa.

Lembramos Taiguara nesse aniversário de seu desaparecimento físico repletos de ânimo que seu exemplo carrega. Sua trajetória é o exemplo do caminho brasileiro ao socialismo, quanto mais combatido mais avançou na consciência crítica, mais se tornou audacioso, corajoso e criativo, essas são as características fundamentais que devemos ter junto com a disciplina revolucionária e uma nova moral e ética para construir nosso caminho soberano, elementos que não faltaram em nenhum momento na vida de Taiguara, um homem do futuro, um exemplar do socialismo, aquele que recusou a escravidão de todos os tipos.

Os próximos tempos continuarão sendo duros, e assim serão enquanto persistir a dependência, o colonialismo cultural, o subdesenvolvimento e a presença do imperialismo. Mas daremos o primeiro passo para superar essa situação na luta por um programa popular com o novo governo Lula, onde estaremos o apoiando para que seja elevada consideravelmente o nível e qualidade de vida do povo, para que seja retomado um conteúdo brasileiro para nossa economia, para que se promova novamente nossa cultura e se alimente a autoestima do nosso maior patrimônio e o ingrediente do qual sem ele não se faz o Brasil: o povo brasileiro.

“Anormal onde a norma é ver e calar,

quero enlouquecer e gritar

pra desmascarar Pátria inteira!

Tenha vergonha de ser brasileira

Tenha vergonha por ser brasileira

Tenha vergonha pra ser Brasileira “ (Taigura, “Pra ser brasileira”)

TAIGUARA PRESENTE!

OUSAR LUTAR! OUSAR VENCER! VENCEREMOS!

PELO CAMINHO BRASILEIRO AO SOCIALISMO! TAIGUARA!

14 de fevereiro de 2023.

Gustavo Santos

Comitê Taiguara de Lutas Populares/ Grupo de Pesquisas e Estudos Nacionais e Estratégicos – Moniz Bandeira


Integrantes do Comitê Taiguara de Lutas Populares durante ato em comemoração aos 80 da vitória soviética na Batalha de Stalingrado, 02 de fevereiro de 2023, Rio de Janeiro.


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