NETO DE ALLENDE RESPONDE BORIC. A moral ambígua dos direitos humanos e a esquerda “nice”.
- grupomonizbandeira
- 23 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de fev. de 2022

Piñera conversa com o vencedor da eleição, Gabriel Boric, em uma vídeo chamada.
Pablo Sepúlveda Allende (*)
Deputado ouso responder-lhe porque vejo o perigo de líderes importantes como você, jovens referentes da “nova esquerda” que surgiram na Frente Amplio, fazendo comparações simplistas, absurdas e desinformadas sobre questões tão delicadas como os direitos humanos.
É muito preconceituoso e grosseiro equivaler - sem o menor argumento - o suposto “enfraquecimento das condições básicas da democracia na Venezuela”, a “restrição permanente das liberdades em Cuba” e “a repressão do governo Ortega na Nicarágua” com as atrocidades comprovadas da ditadura militar no Chile, o evidente intervencionismo criminoso dos EUA em todo o mundo e o terrorismo de Estado de Israel contra o povo da Palestina.
O fato de você escrever tais disparates não “significa se tornar um pseudo agente da CIA”, mas denota uma importante irresponsabilidade e imaturidade política que pode transformá-lo em um elemento útil para a direita, ou pior, acaba sendo aquela “esquerda” que a direita anseia; uma esquerda enfadonha e ambígua, uma esquerda inofensiva, que por oportunismo prefere parecer “politicamente correta”, aquela esquerda que não é “nem chicha nem limonada”, aquela esquerda que não quer parecer mal para ninguém.
Tal esquerda é confusa porque não ousa apontar e enfrentar corajosamente os verdadeiros inimigos do povo. Você já se perguntou por que a Venezuela está sendo tão vilipendiada e atacada na mídia? Por que ela está nas notícias todos os dias em praticamente todos os países do mundo ocidental onde a grande mídia domina? Por que ela está sendo atacada de todos os lados e em uma multidão? Por que esses grandes programas de notícias se mantêm em silêncio sobre os contínuos massacres na Colômbia e no México? Por que aqueles que arrancam os cabelos preocupados com um deputado venezuelano, confessando sua participação em uma tentativa de assassinato, não têm a coragem de exigir de Israel que pare o genocídio contra o povo palestino?
O mundo de cabeça para baixo. Esse é o mundo da política sem coração e sem coragem. Margarita Labarca Goddard já argumentou clara e vigorosamente porque você está errado em seus julgamentos sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua. Apenas acrescentarei que a Venezuela tem uma democracia muito mais saudável e transparente do que a do Chile, posso argumentar sempre que você quiser e podemos debatê-la, se você estiver interessado.
Também é fácil argumentar por que a “restrição permanente das liberdades em Cuba” é uma falácia. Isso sem mencionar que a palavra “liberdade” é tão vulgar que, neste ponto, seu verdadeiro significado é ambíguo, e uma definição sensata requer até mesmo um debate filosófico. Ou você me diz, o que é liberdade?
Menciono estes dois países porque os conheço muito bem. Vivi em Cuba por 9 anos e na Venezuela por mais 9 anos. Não conheço a Nicarágua em primeira mão, mas o convido a se perguntar como um governo de direita teria reagido à ação de quadrilhas criminosas pagas e fortemente armadas, que assumem setores das cidades mais importantes do país; E onde, além disso, essas quadrilhas mercenárias se instalaram para cometer atos abomináveis como sequestrar, torturar, mutilar, estuprar e até queimar vivas dezenas de seres humanos, pelo simples fato de serem militantes de uma causa - neste caso, militantes sandinistas - onde a perseguição chegou ao ponto de assassinar famílias inteiras em suas próprias casas.
O governo legitimamente eleito na Nicarágua, embora tivesse os recursos, a estrutura legal e a força para tomar medidas imediatas e enérgicas contra tal desestabilização fascista se contiveram o máximo. Você acha que a ala direita no poder teria tido essa visão pacífica e apelaria ao diálogo para resolver o conflito? A história nos dá a resposta.
Entendo que você possa estar confuso com a grande “mídia” que se encarregou de vitimizar os algozes; igualzinho como fizeram há um ano na Venezuela durante as chamadas guarimbas.
Portanto, Gabriel, falando objetivamente, com argumentos sérios - sem opiniões formadas e moldadas pela mídia com base em deturpações e mentiras repetidas diariamente - não há dois pesos e duas medidas naqueles de nós que defendemos Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Não temos desaparecidos ou torturados, não prendemos aqueles que pensam ou pensam de maneira diferente; sejam eles deputados, políticos ou supostos estudantes. Ao contrário, eu acho que vejo este “moral ambígua” em você mesmo, quando você faz juízos de valor preguiçosos baseados em manipulação e ignorância.
Podemos discutir sobre a mídia, a democracia e as liberdades comparando o Chile com esses países. Eu lhes asseguro que infelizmente o Chile não se sairia muito bem, ainda mais se incluirmos os direitos humanos, econômicos e sociais, que no Chile nada são além de mercadorias.
“Uma pessoa atinge seu mais alto nível de ignorância quando rejeita algo sobre o qual nada sabe”.
Saúde.
*Pablo Sepúlveda Allende é Doutor, Coordenador da Rede de Intelectuais em Defesa da Humanidade, neto do Presidente Salvador Allende Gossens.
Tradução: Gustavo Santos.
Original disponível em: https://www.lahaine.org/mundo.php/chile-el-doble-estandar-en
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