MANIFESTO – 100 ANOS 100 LIMA BARRETOS
- grupomonizbandeira
- 2 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Nesse 1º de novembro de 2022, o Grupo de Pesquisas e Estudos Nacionais e Estratégicos – Moniz Bandeira homenageia o centenário de desaparecimento físico do principal escritor social do Brasil no século XX: Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922).
Negro, suburbano, anarquista (depois entusiasta de Lenin e da revolução proletária), Lima foi um pensador realmente radical: indignado, rebelde, implicante com as modas, estudioso da realidade social nacional e, além disso, também foi um revolucionário brasileiro.
Ao longo da obra de Lima Barreto como romancista, jornalista, cronista e historiador, não houve um único tema de sua época que passasse desapercebido ao seu olhar e análise: a constituição da República, a questão negra, a Revolução Russa, o movimento operário, o futebol, a luta das mulheres e a estrutura patriarcal, as transformações urbanas, a colonização cultural, a dependência econômica, o caráter das classes dirigentes no Brasil, o subdesenvolvimento etc.
Lima se debruçou sobre a questão central da realidade histórica, social e cultural de nosso país: a questão racial - o racismo enquanto estrutura de opressão fundamental ao exercício da dominação de classe no Brasil. Lima Barreto denunciava e se rebelava contra essa estrutura vigente nos mais diversos traços de nossa realidade social: na opressão patriarcal sobre a mulher negra, tal como representada em seu romance Clara dos Anjos, feito e refeito à luz da observação sobre essa forma de opressão. Lima se indignava em relação à condição humilhante do intelectual negro, condição essa em que ele próprio se encontrava, servindo de ponto de partida para seu autorretrato ficcionalizado no romance Isaías Caminha, escrito numa época em que racismo pseudocientífico imperava como ideologia dominante na sociedade como um todo, sendo ensinado nas faculdades nas faculdades de medicina e servindo de base para a criminalização e subalternização sistemáticas do negro, atingindo até sua exclusão do futebol que chega ao Brasil e rapidamente se tornaria um esporte profundamente enraizado na cultura nacional.
A obra e a vida de Lima nos possibilitam um exercício contínuo de compreensão a respeito do Brasil, de seus conflitos e querelas fundamentais. Lima morreu em 1922, mesmo ano que foi fundado o Partido Comunista no Brasil. Ainda que ele não tenha exercido nenhum papel direto na formação do PCB, o escritor foi um declarado entusiasta da Revolução Bolchevique, se tornando um dos seus principais propagandistas e defensores. O ano de seu falecimento é o mesmo que assistiu à Semana de Arte Moderna, movimento que Lima não viu com bons olhos, pois o enxergou como mais uma expressão de modismo intelectual e como sintoma do colonialismo cultural, ainda que tenha exercido influência – muitas vezes indireta e não assumida – sobre artistas que participaram ou foram próximos ao movimento modernista. Limas Barreto foi, por exemplo, amigo muito próximo do pintor Di Cavalcanti. Em parte, ele tinha razão em suas críticas, pois o modernismo demoraria mais um pouco até se abrasileirar de fato. O ano de 1922 foi a ainda o ano do Levante dos 18 de Copacabana, ali começaria o prelúdio daquilo que viria ser o início de um projeto de Revolução Brasileira, que culminaria na maior marcha guerrilheira da história (a Coluna Prestes), na Revolução Burguesa de 1930, e no Levante Antifascista de 1935. Lima Barreto nos deixava precocemente nesse mesmo ano de 1922. Contudo, seu legado é uma obra combativa e uma das mais profundas interpretações do Brasil e de suas querelas. Por ironia do destino, coincidente naquele mesmo ano nasceram outros dois gigantes da cultura brasileira: Leonel de Moura Brizola e Darcy Ribeiro.
O escritor Afonso Henriques de Lima Barreto faleceu 100 anos após a independência formal do Brasil; independência interrompida, inacabada, que manteve o mesmo sistema econômico escravocrata, possibilitando, nos marcos do Império, a transição da economia escravagista colonial para o capitalismo dependente subordinado à dominação imperialista.
Os problemas que você colocou, camarada Lima, continuam de pé! Tuas lutas seguem inconclusas. Os problemas apontados persistem, com muitos avanços e com inúmeros retrocessos que se articulam. Retomamos teu nome, aqui nesta praça, buscamos em tua obra e em teus escritos um fuzil, queremos construir a segunda e definitiva independência do Brasil. Um Brasil socialista e com a cara de nosso povo.
VIVA LIMA BARRETO!
VIVA O POVO BRASILEIRO!
1º de novembro de 2022, no busto de Lima Barreto, Lapa, Rio de Janeiro.
Grupo Moniz Bandeira.

Comments